Convulsão
Meu filho
de 17 anos teve uma convulsão a 20 dias sem nenhuma causa
aparente durante uma viagem internacional (USA). Ele perdeu os
sentidos após a convulsão (voltou à consciência
já na ambulância que atendeu o chamado de emergência
feito pelo hotel).
No hospital, ficou sob observação
cerca de 12 horas, fez alguns exames, inclusive tomografia ou
ressonância magnética (não sei qual pois não
tive acesso a eles, e na alta não foi dado a ele nenhum
destes exames). Na alta foi lhe dado uma receita de DEPAKENE 500
mg para ser tomado de 12/12 horas e a sugestão de que,
ao voltar ao Brasil procurar um médico, sem nenhuma recomendação
especial: ele continuou a viagem por mais 20 dias, com vida normal,
e só agora, de volta ao Brasil, estamos investigando o
que aconteceu com ele.
Ele não é fumante,
não bebe , não usa drogas e não teve nem
aparenta ter nenhuma doença. Os seguintes exames já
foram aqui realizados : ECG, EEG, Tomografia do crânio,
Ecocardiograna, Holter 24 horas, e todos os exames sangüíneos
de praxe: todos deram NORMAIS. Ele é portador de glaucoma
e faz uso de BETAGAN, uma vez por dia, e TRUSOPT 2%(Hidrocloreto
de Dorzolamida, MSD) duas vezes ao dia. Pergunta: o que pode ter
acontecido para desencadear esta convulsão? É possível
um estado emocional de ansiedade (ele estava em intercâmbio
escolar a 11 meses nos EUA, longe da família e demasiadamente
ansioso para voltar), cansaço físico (estava viajando
a 2 dias de ônibus, se alimentando pouco, dormindo quase
nada e com alta temperatura (40 graus Centígrados) ser
o gatilho de uma convulsão em um jovem absolutamente saudável?
Como nada foi encontrado, é
necessário que ele continue com a medicação
anti-convulsivante ? E caso ele necessite continuar com a medicação
, por quanto tempo mais será necessário? Ele pode
continuar a praticar esportes, mesmo fazendo uso da medicação?É
possível os medicamentos para o glaucoma serem o fator
desencadeante?
Ivonete
Considerando a situaçãode
um paciente de 17 anos ter apresentado uma crise convulsiva (suponho
que do tipo tônico-clônica generalizada), única,
na situação descrita, temos a considerar o seguinte:
(i)É
totalmente irrelevante para o caso o resultado de eletrocardiograma,
ecocardiograma e Holter 24 hs.
(ii) É impossível para os medicamentos usados para
o glaucoma serem fatores desencadeantes.
(iii) Cansaço físico neste caso; ansiedade, calor
do ambiente não são fatores desencadeantes de convulsão.
(iv) Falta de alimentação (hipoglicemia) e privação
de sono podem perfeitamente desencadear crise convulsiva, tanto
em paciente epiléptico como em pessoas 'normais'.
(v) Pelo fato de nada ter sido encontrado no EEG e na Tomografia
de crânio (que suponho tenha sido realidade com aplicação
de contraste iodado endovenoso), e pelo fato de ser crise única,
não é obrigatório o uso de anticonvulsivantes.
(vi) Recomenda-se cautela em caso de esportes, até que
se tenha um seguimento mais prolongado do caso, com repetição
do exame neurológico, do eletrencefalograma, pois comparando-se
suas chances de recidiva de crise convulsiva, AINDA QUE MUITO
BAIXAS, teoricamente sempre serão maiores que as de um
indivíduo 'normal' apresentar uma primeira crise. Cabe
também aqui conhecer os antecedentes familiares do paciente
para crises deste tipo.
(vii) A Ressonância Magnética de Crânio pode
mostrar lesões não visualizáveis através
da Tomografia Computadorizada.
Dr. Nevair Roberti
Gallani - Neurocirurgião e Intensivista / ATLS em Campinas
- SP.
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