Adriana
Marques dos Santos e Valeria Valmario
Lembrando
do mês onde é comemorado o Dia Internacional da
Mulher (08/03), a memória começa a fervilhar.
Relembramos obstáculos transpostos e as conquistas daquelas
que têm na alma a flexibilidade de construir bases sólidas
em meio a efemeridade. A partir do mito de Eva, prestamos nossa
homenagem e possibilitamos a reflexão a cerca do feminino
que podemos cultivar dentro de nos mesmas. Quem não se
lembra dela? Extirpada das costelas de Adão e submetida
ao olhar do mundo como aquela que, provando do fruto da árvore
da vida, cai em "tentação", fazendo
com que os homens perdessem o direito ao paraíso. Parece
tão distante e remoto, mas qual será o paradeiro
da Eva? Contam as "más línguas" que
ela ainda vagueia entre nós com outras formas, pois não
podemos esquecer que Eva, agora, é 2000.
Através
deste conto às avessas, a Psicóloga Adriana Marques
e a Shiatsu-terapeuta Valéria Valmario, "levantam
lebres" sobre as faces do feminino, sua trajetória,
conquistas... ou serão perdas? Com o que nos deparamos
por estes longos anos? O que a "Mulher 2000 traz de novo"?
Para falar do novo, vale a pena relembrar alguns marcos de construção
da identidade feminina. Num salto de milênios e gerações
"Eva" protagoniza diversos papéis e lugares
na história da Humanidade. Como num curta-metragem, após
sua "expulsão do paraíso", "Eva"
vive o papel de "Centro do Universo". Grande Mãe,
geradora, com poderes para criar, plantar, cooperar e nutrir,
sendo adorada e respeitada, possui o dito "Poder Biológico",
na medida em que o homem ainda desconhecia sua função
na reprodução. Segundo Rose Marie Muraro: "no
período Neolítico o homem começa a dominar
a sua função biológica reprodutora e, podendo
controlá-la, pode também controlar a sexualidade
feminina. Aparece, então o casamento como o conhecemos
hoje em que a mulher é propriedade do homem e a herança
se transmite através da descendência masculina..."(in
O Martelo das Bruxas, introdução, p. 7). "Eva"
retorna ao domínio doméstico, tendo como papel
primordial gerar e gerenciar o crescimento de seus filhos.
Mudando
de cenário, vemos "Eva" voltando ao domínio
público, trabalhando nas grandes fábricas, insígnia
da grande revolução "cultural"... Industrial.
Acelerando a memória do feminino, surgem imagens marcantes
como: "queima dos soutiens em praça pública,
o surgimento dos anticoncepcionais, o Relatório Hite,
as mulheres na política, a mulher e a Internet e tantas
outras..." Transformação de papéis,
de cenários, levando-nos a questionar ate'que ponto a
mudança realmente se concretizou e concretiza no interior
das mulheres atuais. Em palestras e em grupos de Encontro com
Mulheres percebemos em sua fala um misto entre serem reconhecidas
pelo seu próprio valor e a dificuldade em vivenciarem
tal reconhecimento pela via material e do afeto. A separação
surge quando o homem e a mulher disputam, dentro de uma mesma
estrutura social, os mesmo espaços da mesma forma, sem
diferenciá-los ou sequer buscar complementá-los.
A busca da igualdade surge como forma de anulação
da diferença a tal ponto que a revista Time, em capa
no ano de 1992 anuncia: "Homens e Mulheres, nascem diferentes?"
Quando
temos a mesma referência masculina de construção
do universo, ficamos aprisionadas como "Eva", na eterna
culpa de ter se mostrado diferente pela escolha da sabedoria.
Na Sexualidade, por exemplo, vemos ainda hoje, mulheres apontarem
o papel de "Mulher-Sedutora"como sinônimo de
"mulher fácil" e, em contraposição,
a "Mulher-Mãe" como "Santa". Algumas
mulheres que vivenciaram a "Eva Mãe" foram
gradativamente anulando as "Evas Sedutoras, Espiritualizadas,
Intelectualizadas", como se todas as faces de um mesmo
cristal não pudessem brilhar juntas, sem distinção,
sem hierarquia. Todos os ângulos são importantes.
Negar algum deles é mutilar uma faceta do feminino, gerando
desequilíbrio. Questões interessantes para repensar
como contribuímos para as novas gerações
com as ideologias acerca do que é "ser mulher".
Percebemos
que a maioria das mulheres constrói as suas conquistas
a partir da força masculina (a competitividade, a força
física, a ação racional, etc), ao invés
de se utilizar dos instrumentos do próprio feminino (
a emoção, a reflexão, a introspecção,
etc). Acabamos construindo uma sociedade que reforça
o princípio masculino, tanto nos homens quanto nas mulheres.
Continuamos a pagar pela escolha de colocar na sombra aquilo
que também temos como ferramenta de vida - a essência
feminina. Lutamos, às vezes, para sermos aceitas como
"uma filha diante do pai" (em busca de amor). Conquistamos
espaços, títulos, mas é como se um vazio
ainda permanecesse... Enquanto necessitarmos sermos iguais,
perderemos o encontro genuíno com a nossa diferença.
Adriana
Marques dos Santos
Psicóloga
(CRP: 05/21755), Gestalt-terapeuta, especializada em Grupos
pela Universidad de Barcelona. Ministra cursos e workshops
visando facilitar a auto-gestão e o desenvolvimento
de maior qualidade de vida. Atende individualmente e em
grupos como Psicoterapeuta no Portal Violeta. |
Valeria
Valmario
Shiatsu-terapeuta,
formada pela Academia de Artes e Ciência Oriental,
Curadora Prânica, coordenadora de Grupo de Gestantes
formada pela Casa do Parto. Coordena Grupos de Mulheres
e atende individualmente com Massagem Terapêutica,
no Portal Violeta - Tijuca. |
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