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"Enquanto
a autoridade inspirar temor reverencial, a confusão
e o absurdo irão consolidar as tendências conservadoras
da sociedade. Primeiramente, porque o pensamento claro e
lógico conduz à acumulação de
conhecimentos (cujo melhor exemplo é fornecido pelo
progresso das ciências naturais), e o avanço
do conhecimento cedo ou tarde solapa a ordem tradicional.
Pensamento confuso, por outro lado, leva a lugar nenhum
e pode ser tolerado indefinidamente sem produzir nenhum
impacto no mundo."
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Stanislav
Andreski, Social Sciences as Sorcery (1972, p.90)
A
história de Mateus, o estudante de medicina que metralhou
algumas pessoas em um cinema em São Paulo, ano passado,
nos remete a algumas reflexões como educadores.
Educar implica em disciplinar, dar limites, nortear. Difere
de tripudiar, triunfar sobre a ignorância dos alunos (se
eles não ignorassem o que sabemos para ensinar, estaríamos
desempregados).
Para
os humanos comuns que pretendem ensinar o que sabem e ajudar
os alunos a não desenvolverem aversão pelo aprendizado,
um bom começo é sermos mais tolerantes com nossas
próprias limitações e por extensão
com as dos alunos. Assim, possivelmente não tornaremos
piores do que são, as pessoas com as quais compartilhamos
nossas vidas e carreiras.
A
história contada por Mary Shelley, uma garota de 19 anos
quando escreveu seu thriller, provavelmente mais citado que
lido. Habitualmente vemos referência a Frankenstein como
sendo o monstro, quando na história original, ele é
o cientista criador do monstro.
Pensando
então no Dr. Frankenstein, cientista, desejoso de dar
vida à matéria morta, como tem sido nosso papel
como educadores? Que criadores somos nós?
Tem
havido na Faculdade desde sempre o culto à intolerância.
Talvez isto reflita o desejo de manter afastado, o que mais
nos assusta, pois se próximos, estaremos nos relacionando,
e pensando a respeito de valores e dúvidas que angustiam.
Para
evitar tais dissabores, vamos fomentar a intolerância
para nos refugiarmos com nosso bando.
Intolerância
aos de cor diferente da nossa, de condição sexual
diferente, de condição econômica diferente,
de crença religiosa, de concepção política.
Intolerância aos casados, aos com amantes, aos sem amantes,
aos descasados, aos pais solteiros, aos assediadores de alunos.
Aos pesquisadores, aos que não pesquisam. Intolerância
aos chefes incompetentes, aos competentes, aos não chefes.
Intolerância aos que tomam cafezinho, aos que não
freqüentam a sala de café. Intolerância aos
Dedicação Exclusiva, aos que tem múltiplos
empregos, aos felizes e aos descontentes com o que recebem pelo
trabalho.
Aqueles
que estão acima do bem e do mal e não se incluem
em nenhum destes grupos, sugiro que fomentem os ritos de passagem.
Que chamem os alunos de burros, que mantenham o propósito
de incitar o terror, ensinar a temer e não ajudar a aprender
cada Disciplina.
Fomentando a intolerância possivelmente contribuiremos
para que se tornem piores do que são, as pessoas com
as quais interagimos. Aumentaremos as chances de criarmos nossos
próprios monstros locais que poderão repetir as
mesmas experiências com seus futuros pacientes, alunos
e quem sabe venham a ser médicos de nós mesmos.
Quem
estimula tais intolerâncias, age como adolescente, projetando
em colegas e alunos, sua fragilidade. Ou não estão
qualificados para serem professores, ou não fazem uso
do conhecimento que seria esperado de sua qualificação.
Por
outro lado, conviver com intolerantes, pode mobilizar o melhor
de nós, para não nos tornarmos intolerantes iguais.
Dr. Luís Carlos Calil
Professor da Disciplina de Psiquiatria
da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro,
Uberaba MG - lccalil@mednet.com.br