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Alcoolismo Feminino
  Dr. Paulo Cesar Madi

Desde que a mulher, após seu movimento de emancipação ampliou seu espaço social e aumentou sua participação na disputa pelo mercado de trabalho, incrementando sobremaneira suas responsabilidades (mãe, amante, dona de casa e agora provedora), houve uma modificação na gravidade e nos tipos de doenças que incidem no sexo feminino. Doenças como o infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e outras, mais frequentes no sexo masculino porque ligadas a um aumento de responsabilidade, competitividade e nível de stress, estão agora também incidindo mais sobre as mulheres. Também as mulheres estão cada vez mais usando drogas, tanto as permitidas como o cigarro, álcool, antidepressivos, hipnóticos, ansiolíticos, etc quanto as proibidas como maconha e cocaína entre outras.

A distinção entre o uso aceitável e a dependência do álcool não é nítida, é variável entre as diversas culturas e grupos sociais. O CID-10 (décima versão da Classificação Internacional de Doenças) define farmacodependência como "um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos nos quais o uso de uma substância ou classe de substâncias torna-se prioritário em relação a outros comportamentos que antes tinham maior importância para um dado indivíduo. Uma característica descritiva central desta síndrome é o desejo (frequentemente forte, às vezes irresistível) de usar drogas psicoativas (que podem ou não terem sido prescritas), álcool ou tabaco." Desde os tempos mais remotos da história do homem ele abusou do consumo do álcool com propósitos eufóricos, para celebrar várias festividades, para dar cunho solene a rituais religiosos, no exercício de atividades sociais e para proporcionar alívio do seu stress emocional imediato ou contínuo.

Os problemas relacionados ao alcoolismo ocorrem, em média, por volta dos quarenta anos. São a conseqüência do hábito de beber iniciado muitos anos antes, na maioria das vezes durante a adolescência. Em geral se verifica que o alcoólatra começa a se habituar através do etilismo social, no qual ele tanto encontra alívio das tensões usuais da sua vida quanto descobre que suas tensões internas podem ser neutralizadas pela ingestão de bebidas alcoólicas. Com o decorrer do tempo ele se torna cada vez mais dependente da bebida como um meio de reduzir a ansiedade.

O alcoolismo ainda é mais comum entre os homens do que entre as mulheres. Igualmente, o reconhecimento da sua existência como um hábito ou vício gradual tem lugar, em média, quase uma década antes nos homens do que nas mulheres, apesar de que nota-se uma tendência à diminuição deste tempo. Muitas mulheres casadas começam a beber na meia idade, quando seu papel de mãe e esposa é desafiado pela partida de seus filhos - o desafio do "ninho vazio". Quando se examinam as famílias e os parentes de alcoólatras em relação ao risco de doença psiquiátrica, parece que os distúrbios afetivos primários são descobertos em uma considerável proporção de mulheres alcoólatras - nas quais este termo é usado para significar um distúrbio presente antes que tenha ocorrido o etilismo excessivo.

A genética, a constituição e as experiências emocionais da mulher, em suas transações familiares e sociais, contribuem para predispor ao alcoolismo. As influências culturais reforçam os padrões familiares, estabelecendo a predileção pelo abuso do álcool como o meio de obter alívio da ansiedade e da depressão (que realmente ocorrem muito mais em mulheres que em homens). Experiências posteriores de privação do apoio emocional podem agir, às vezes repetitivamente, como precipitantes de períodos de etilismo ou do retorno ao álcool, por parte daquelas que abandonaram o hábito.

O álcool é descoberto como um alívio para as penosas emoções interiorizadas porque os pais são permissivos em relação à bebida. O alcoolismo de alguma forma é muito mais comum nos pais, irmãos e no cônjuge do que na população em geral. É esta indulgência franca para com o álcool, na família ou no grupo adolescente da futura viciada, que favorece o defeito do superego que permite seu uso repetido. Secundariamente, surge a dependência psicológica e farmacológica que, a princípio, proporciona euforia, mas que, mais tarde, à medida que as frustrações do ego aumentam, oferece pouco mais do que um lenitivo para as tensões insuportáveis.

As bebidas alcoólicas mais consumidas entre nós costumam apresentar, com variações, a composição por 100 ml abaixo:

BEBIDA ÁLCOOL GLICÍDIOS
Cerveja 3,8 3,5
Vinho tinto 10,5 2,0
Vinho branco 10,5 4,0
Champanha doce 11,0 10,0
Champanha seco 11,5 1,0
Vinho do Porto 15,0 6,0
Vinho Madeira 14,0 3,0
Vermute italiano 18,0 12,0
Xerez 15,0 3,0
Aguardente 35,0
Rum 35,0
Vodca 45,0
Uisque 35,0
Bourbon 40,0
Gim 28,0
Conhaque 35,0

Os fatos principais referentes ao metabolismo do álcool podem ser resumidos dentro dos itens que se seguem:

 

  • O álcool é absorvido no estômago e no intestino delgado.
  • O alcool absorvido pode aparecer logo no ar expirado e na urina, mas é muito pouco eliminado por estas vias.
  • A absorção do álcool é maior quando ingerido com o estômago vazio e se retarda quando usado no curso das refeições ou juntamente com leite e com alimentos gordurosos.
  • O álcool absorvido fornece ao organismo 7 calorias por grama.
  • A metabolização do álcool se dá quase inteiramente no fígado.

O álcool provoca doenças no sistema nervoso, estômago, fígado, pâncreas, além de distúrbios nutricionais, alterações da imunidade e sociopatias.

Num estudo retrospectivo (década de 80), onde foram analisados 400 prontuários, 200 de homens e 200 de mulheres, a fim de verificar-se a freqüência do consumo de bebidas alcoólicas, os indivíduos em pauta eram, em grande maioria, de nível social médio alto, com bom padrão educacional, econômico e social. Tais pacientes foram catalogados com relação ao uso de álcool da seguinte maneira:

 

  • Grupo zero= indivíduos abstêmios, ou quase. Raramente ingeriam quantidades mínimas de bebidas alcoólicas.
  • Grupo um = indivíduos que aceitam bebidas em festividades ou ocasiões especiais, tomando pequenas quantidades em grandes intervalos. Ocasionalmente um chope, um vermute ou um vinho.
  • Grupo dois= indivíduos que começam como social drinkers, bebendo e repetindo as batidas e coquetéis servidos em reuniões. Gostam do uísque e da vodca, usando-os em casa. Ingerem de 10 a 30 g de álcool/dia.
  • Grupo três= pacientes já considerados grandes bebedores, consumidores de gim, uísque, vodca ou cachaça. Bebem cerca de 100 a 120 g de álcool ou mais, por dia.

A tabela abaixo mostra as freqüências com que foram assinalados os vários grupos.

USO DE ALCOOL

HOMENS

MULHERES

0

64%

76%

1

20%

12%

2

12%

10%

3

4%

2%

Além de várias outras conclusões este estudo, comparado com outro feito anteriormente, mostrou um aumento de mulheres que usavam álcool e que era mais difícil conseguir dados do grupo feminino (as mulheres conseguem beber por mais tempo sem serem detectadas).

 

Dr. Paulo Cesar Madi
Clínica Médica - Santo Antonio da Posse - SP

 

 
 

 
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