Não há dúvidas de que o divórcio é uma ruptura
no sistema familiar, que resulta numa série de mudanças
na estrutura familiar básica e em
todos os seus relacionamentos.
( Mc. Goldrick -1989)
O divórcio ou separação exige uma mudança na maneira de funcionamento das famílias e suas diversas áreas, provocando uma nova definição de vida familiar. No momento da separação além de toda a problemática existente entre o casal acumulam-se questões quanto ao dinheiro, paternidade, relacionamentos sociais e a perda que considero como um processo de luto para todos os membros do sistema familiar, essas dificuldades exigem da família um tempo considerável de reorganização.
Os problemas financeiros surgem com os primeiros passos da separação, pois, por maior que seja o poder aquisitivo desta família, ao separar, divide-se bens materiais além do dinheiro propriamente dito, em geral o casal quando solteiros obtêm uma queda. Se a mulher é independente financeiramente, terá de aprender a se organizar com as novas responsabilidades, mesmo tendo ajuda financeira para a educação dos filhos, também poderá ter de reorganizar a rede de apoio, ou seja, os familiares do casal e profissionais prestadores de serviços. Se durante o casamento esta mulher se dedicou aos afazeres domésticos da casa e da família, poderá ter muitas dificuldades para recomeçar e organizar esta nova vida perante o novo orçamento doméstico, tendo muitas vezes de se lançar ao mercado de trabalho a fim de complementar a renda familiar.
No caso se o pai fica com a guarda dos filhos, o sistema de reorganização poderá complicar um pouco mais, pois, não terá o apoio de um dos membros (mãe) para administrar os afazeres domésticos bem como terá de despender um tempo de sua rotina diária para a educação e atenção dos filhos. Desta forma precisam confiar em sua própria capacidade. Mas como confiar no momento tão delicado e com tantas mudanças?
Compreender uma ruptura em momento tão delicado a princípio pode parecer difícil, porém se os pais acreditarem que a decisão tomada venha favorecer a qualidade das relações no âmbito familiar, proporcionando o melhor de si aos filhos, sem as interferências do conflito do casal, quanto melhor o casal lidar com suas diferenças, quanto mais seguros estiverem sobre suas decisões, melhor estarão para lidar com confiança nas questões dos filhos.
Os problemas de paternidade nas novas famílias com pai e mãe sozinhos, aparecem com a dificuldade de disciplinar e educar os filhos num momento em que se encontram tão fragilizados. Essa ausência de um dos pais provoca uma lacuna na hierarquia da família aumentando o nível de exigência nos recursos de quem fica.
Quando a mulher é quem fica e necessita trabalhar tempo integral, acumula as tarefas domésticas criando uma rotina de dois ou três turnos, não abrindo espaço e reservando energia para satisfazer as necessidades dos filhos, que também passam por uma grande perda. O sentimento de perda nesta fase em geral para todos os membros equivale ao luto, pois a sensação é de irreversibilidade, refletindo na segurança e nas certezas anteriormente construídas e agora em processo de reconstrução no novo contexto, além é claro da ausência cotidiana do outro progenitor.
Independente do estágio em que ocorre o divórcio, se os filhos são pequenos ou adolescentes, a mãe e o pai precisam se estabeler como cuidadores responsáveis pelos filhos, o papel dos pais não muda com a separação.
No âmbito social podem ocorrer as rupturas, amigos anteriores do casal sentem-se pouco à-vontade e podem apresentar necessidade de tomar partido, restringindo a relação aos filhos do casal. Por outro lado às partes agora separadas, podem sentir-se inadequadas para as atividades com casais por estarem sozinhos ou sentindo-se exaustos para as atividades sociais.
Se o casal que se separa tem filhos em fase de adolescência ocorre o acúmulo de mais um processo significativamente transformador, com a adolescência inicia na família uma reestruturação das relações e forma de ver o mundo , que exige novas organizações, rupturas, perdas, rever conceitos, novas formas de diálogo, proporcionando inseguranças e questionamentos. Ë o momento em que os filhos adolescentes estão interagindo com suas construções familiares no meio social e aprendendo a olhar o mundo a partir de si e não mais da visão dos pais. “A atuação dos pais nesta etapa de transformação é o de conseguir de forma gradual construir uma relação com os filhos agora como adultos, enquanto aprendem, ensinam também, á medida que apresentam alguns comportamentos como modelo ou não, permitindo que os filhos saiam para encontrar novas possibilidades de construção de suas atitudes” (Vicente, Rosa, 2004 em Família E.).
Falei de um tempo considerável e necessário de adaptação enquanto se recolhe os cacos da separação o tempo é fundamental, tempo de gestão para os membros, tempo de apropriação, tempo de negociação entre as necessidades do grupo e de cada um, as dimenções temporais quando em conjunto com as ligações com ambos os pais, fará com que o adolescente suporte melhor as mudanças inevitáveis na vida afetiva e cotidiana.
Atualmente tenho sido procurada por pais que se encontravam insatisfeitos com os modelos tradicionais de educação e que passaram para um modelo mais liberal, por vezes até que liberal demais, no qual apresenta ausência de limites e de hierarquia familiar. Está passagem de um extremo ao outro também não trouxe satisfação aos pais pelo contrário, estão cheios de dúvidas e inseguros sobre como lidar, como e quando impor limites e regras, como construir um relacionamento afetivo e assertivo com seus filhos.
A separação dos pais pode também propiciar ganhos qualitativos aos filhos adolescentes, quando nas condições em que os pais não abrem mão de seu papel e mantêm-se ativos e presentes, podem contribuir muito no ganho do senso de responsabilidade e autonomia dos filhos. A nova realidade familiar contribui aos novos arranjos, que muitas vezes acabam por favorecer o amadurecimento e ampliar a autonomia dos adolescentes. Desta forma estão mais expostos para cuidar de si, adquirem mais experiência e acabam por amadurecer mais rápido.
Somente quando estes arranjos são disfuncionais como, por exemplo, na ausência de um dos pais o filho (a) mais velho assume a responsabilidade sobre os irmãos mais novos, subindo na hierarquia da família no lugar do membro faltante, neste caso passa a fazer parceria com o pai ou a mãe podendo tomar para si as dores da relação do casal separado, em função da lealdade estabelecida com o pai ou a mãe.
São muitas as questões da separação num sistema familiar com adolescentes, porém é importante não perder a referência que os filhos serão sempre filhos e não objeto de negociação no processo de separação é necessário saber ouvir, deixa-lo falar, desabafar, falar com eles de uma maneira segura e tranqüilizadora a fim de reduzir as ansiedades desta nova situação e evitar tormentos inúteis, é possível transmitir explicações saudáveis para o relacionamento familiar, porque os filhos percebem o estado emocional dos pais. Compartilhar os sentimentos com responsabilidade e respeito promove um ambiente de confiança e empatia, inibe os comportamentos agressivos e de acusações, permite que o diálogo seja visto como depoimento facilitando a conversação, reduzindo a tensão e a ansiedade do clima familiar. Ao estabelecer os relacionamentos familiares de forma confiável, com base na consideração para com o outro e em seu bem estar, promove-se uma ambiente seguro onde os membros do grupo familiar podem contar um com o outro.
Gosto muito da colocação de Nazareth quando diz: “ Nosso sucesso como humanos seres psicológicos que somos está em poder conviver com a dor e com o conflito. Está em poder manejar e a prender a apreciar as diferenças em vez de negá-las. Está em poder viver e estruturar relações cada vez mais pautadas pelo afeto e cada vez menos organizadas por modelos impostos. Talvez só desse modo possamos passar a ver o divórcio como uma transformação” . (Família E - 2004).
Acredito que quando a família busca compartilhar informações entre seus membros, bem como buscar informações com profissionais na comunidade e outros meios, contribui para que as situações de estresse, as opções de arranjos e as estratégias possíveis de manuseio sejam clarificadas e permitam uma resolução a partir de suas necessidades.
Autor; Margarete Ap. Volpi Arantes.
Psicoterapeuta Familiar e casal.
Formada pela Unesp-SP
Especilizada pela PUC-SP.
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